Refleti muito antes de escrever um texto sobre esse assunto. Há algum tempo eu vinha observando a movimentação dessa nova onda de “desafios” online — e as opiniões aqui e acolá sobre cada um deles. O que quero fazer aqui é refletir especificamente sobre o '' Desafio Sem Maquiagem '' ou “Desafio Sem Make”, que contou com a adesão de diversas mulheres famosas e “anônimas” na esfera virtual.
Acho que existe muito cinza entre o preto e o branco. Portanto, para mim é delicado conceituar ações desse grau apenas como fúteis ou como corajosas. Cada caso é um caso. Cada mulher tem seu motivo para aderir ao desafio ou para rejeitá-lo. Porém, é preciso pensar o que significa, de um modo amplo, chamar o ato da retirada de maquiagem um “desafio”.
É por que ser aceita tal qual se é, sem pinturas e edições, significa desafiar todo um mecanismo de influência nutrido pela mídia e pelas grandes empresas de cosméticos? É se despir de uma “armadura”, que é usada para ser socialmente aceita e tentar avivar a autoestima? Ou é só pelos “likes”?
Para muita gente é um desafio sair sem maquiagem. Mas, quem são essas pessoas? Como elas se sentem quando alguém as chama de bobas ou fúteis? Tem muita coisa que a gente não quer mostrar. Cicatrizes, manchas que preferimos esconder, porque a imagem daquilo nos traz repulsa sobre nós mesmos. Quem não tem alguma marca no corpo que gostaria de não ter?
Mulheres que se produzem são mais inseguras? Minha vivência diz que não. O desafio que eu sinto que deveria ser protagonizado era o de se curtir, sem esperar muito das curtidas dos outros — da aprovação da mídia e de sei lá mais quem. O desafio mesmo é empoderar-se enquanto mulher, de cara limpa ou maquiada, com silicone ou bronzeamento artificial, do jeito que cada uma escolheu manipular o próprio corpo e que legitime a sua própria voz ativa sobre o seu corpo.
Em resumo, o que quero dizer é: ponha maquiagem, tire maquiagem, mas reflita conscientemente, permaneça verdadeira a você. Perceba as manipulações, as influências. Quebre as regras. Transgrida. Boicote o senso comum de que você tem que estar perfeita o tempo todo, do jeito que lhe dizem, mostrando que você é perfeita sim, mas de qualquer jeito, desde que seja do seu modo. Divirta-se, permita-se. Faça o que lhe apraz com consciência ativa e chegue mais perto da sua liberdade.
Por: Ana Júlia Ferreira.
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